
Recentemente, Romeu Zema chegou a participar de evento na Iveco, quando defendeu o emprego de tecnologias que garantam sustentabilidade ao planeta. Agora, segundo a ABVE, o governador mineiro diz que o carro elétrico representa uma ameaça ao emprego. A entidade considera as posições de Tarcísio de Freitas (SP) e Zema hostis ao mercado de veículos elétricos e híbridos no país.

De São Paulo
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), presidida por Ricardo Bastos, da Great Wall Motor, divulgou nota no início da noite de sexta-feira (20), na qual considera hostis ao mercado de veículos elétricos e híbridos no país as posições dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Romeu Zema (Minas Gerais). O chefe do Executivo paulista, segundo a entidade, vetou um projeto de lei favorável aos veículos elétricos e híbridos, enquanto o governador mineiro declarou que a eletromobilidade ameaça empregos dos brasileiros. Para Bastos, foram dois “sinais decepcionantes para as empresas que estão investindo no transporte sustentável no Brasil”.
O presidente da ABVE mostra indignação:
“Não faz sentido as autoridades dos principais estados do país criarem insegurança a empresas que já se comprometeram a gerar empregos de qualidade e a trazer inovação tecnológica à indústria brasileira.”
Em meados de agosto, o governador Zema participou de evento na montadora Iveco, onde fez pronunciamento sobre a importância de medidas e ações que visem ajudar na sustentabilidade do planeta.
Na ocasião, o governador mineiro destacou:
“Minas Gerais tem se preparado para essa transição energética, nós somos hoje, disparados, o maior produtor no Brasil de energia fotovoltaica, em um dia ensolarado nós estamos aqui com meia Itaipu de energia. Isso representa muita coisa. Os lagos das represas hidroelétricas têm recuperado os níveis, pois não estão sendo demandados. O país que não tiver responsabilidade, não vai conseguir vender os produtos. No nosso caso, temos o café, a soja, o milho entre outros produtos que são vendidos diariamente.”
Em Minas Gerais, segundo informa o sítio do governo, o programa prevê que para cada caminhão baixado o beneficiário terá direito a adquirir dois caminhões, sendo um zero-quilômetro e outro com até dez anos de fabricação, que terão direito à isenção de IPVA também por até dez anos. Estão aptas a participar do programa as pessoas físicas ou jurídicas proprietárias de caminhões registrados no Detran-MG, com data de fabricação igual ou superior a 30 anos.
Eis a íntegra da nota:
“A Associação Brasileira do Veículo Elétrico manifesta sua decepção com as declarações recentes dos governadores de São Paulo e Minas Gerais, ambos surpreendentemente hostis ao desenvolvimento do mercado de veículos elétricos e híbridos no Brasil.
A surpresa é ainda maior se considerarmos que os investimentos mais firmes do setor automotivo brasileiro, anunciados nos últimos meses, são justamente de empresas que estão transformando a indústria nacional, investindo em novas tecnologias e renovando suas linhas de produção para fabricar tais veículos no país, inclusive com a aquisição de plantas industriais desativadas.
“Não faz sentido as autoridades dos principais Estados do país criarem insegurança a empresas que já se comprometeram a gerar empregos de qualidade e trazer inovação tecnológica à indústria brasileira.”
E a nota vai além:
“Não nos parece sábio essas autoridades darem um sinal de desconfiança à tendência mais relevante do setor automotivo mundial, e esperamos que essas posições sejam reconsideradas. A eletromobilidade é um ecossistema completo. Inclui não só automóveis, mas a nova cadeia produtiva de ônibus elétricos, a vibrante indústria de infraestrutura de recarga elétrica e um promissor setor de mineração.”
O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, lembrou que, em maio, o próprio governador de Minas Gerais lançou na Nasdaq, a bolsa de valores do setor tecnológico de Nova York, o importante projeto do Vale do Lítio.
“Esse lítio é só para ser exportado in natura? Não seria mais adequado essa riqueza servir à produção de baterias, automóveis e ônibus elétricos no Brasil?” – pergunta o presidente da ABVE.
A ABVE entende que as afirmações do governador de Minas Gerais, segundo quem o veículo elétrico “é uma ameaça” aos empregos, estão em descompasso com a realidade internacional e o desenvolvimento do próprio mercado brasileiro.
Já a decisão do governador de São Paulo de vetar um projeto de lei da Assembleia Legislativa que propunha incentivos à eletromobilidade no Estado, substituindo-o por uma proposta que esquece os veículos elétricos, vai na contramão da via tecnológica mais promissora de combate às mudanças climáticas.
Para a ABVE, o crescente número de emplacamentos de veículos leves elétricos e híbridos nos últimos anos prova que o consumidor brasileiro aposta cada vez mais em produtos modernos e sustentáveis – daí os investimentos no setor.
Esses investimentos estão criando um conjunto amplo de empresas de veículos, componentes, equipamentos e serviços, com um número crescente de startups surgindo a cada dia.
Por fim, a ABVE ressalta que a eletromobilidade não é incompatível com o setor de biocombustíveis. Ao contrário, ela se soma a uma vocação já consolidada da indústria brasileira e potencializa os benefícios de uma das matrizes de geração de eletricidade mais sustentáveis do planeta.
São Paulo, 20 de outubro de 2023 – Ricardo Bastos, Presidente.
Exclusividade injustificada
A ABVE enfrenta ataque institucional da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que reivindica exclusividade do protagonismo nas negociações com o governo em programa de eletrificação dos veículos no país. Segundo o Estadão e o UOL, a entidade dos elétricos e híbridos reivindica participação no debate sobre a política automotiva voltada à descarbonização dos meios de transporte e, por consequência, atendendo a necessidade da sustentabilidade do planeta. A Anfavea tem orientado as montadoras a se desfiliarem da ABVE. Em abril deste ano, Stellantis – Fiat, Jeep, Peugeot e Citroen – Toyota, Renault e Audi se desligaram da ABVE. General Motors e Nissan, permanecem na entidade dos elétricos, o mesmo acontecendo com a Ford, que em 2021 deixou o Brasil, operando como importadora.
Foto: José Cruz/Agência Brasil