
A organização criminosa que controla o setor de transporte de veículos novos deu início na semana passada a uma campanha destinada a espalhar boatos e incitar o ódio nas redes sociais, com destaque para a plataforma WhatsApp. Dois fatos motivaram os ataques: a cotação de preços de montadoras e a compra das operações da Chrery pelo Grupo Caoa. A expressão organização criminosa para referir-se às entidades e transportadoras que dominam o setor é usada em relatórios da Polícia Federal e do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco).
Todos os alvos são concorrentes do esquema responsável por alinhar preços dos fretes e violar o princípio da livre concorrência. Um grupo paulista autodenominado Cegonheiros do ABC em Luta tenta desqualificar operadoras de logística, empresas de transporte de veículos e empresários do setor. Os ataques às imagens dos concorrentes são feitos por meio da divulgação de notícias requentadas e de depoimentos em cartório registrados por pessoas cooptados pelo cartel.
Prática do cartel é antiga
Pelo menos seis panfletos eletrônicos foram compartilhados nas redes sociais. Até caminhões-cegonha com faixa preta (simbolizando luto) e as iniciais VW, da Volkswagen, estão rodando pelo País.
A prática é antiga. Em 2003, houve até anúncio pago em jornal gaúcho para desqualificar empresa que disputava o transporte da produção da Iveco (fábrica de caminhões da Fiat). Autor das denúncias foi processado e condenado a pagar indenização por danos morais.
Sinaceg é o braço político da organização criminosa
O principal objetivo dos agressores é usar todos os mecanismos disponíveis para inviabilizar a contratação de empresas que não tenham vínculo com o cartel que controla o setor, já condenado em Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) do Rio Grande do Sul. O MPF gaúcho foi pioneiro no combate ao monopólio exercido por empresas associadas à Associação Nacional dos Transportadores de Veículos (ANTV), extinta por ordem da Justiça Federal, e ao Sindicato dos Cegonheiros de São Paulo (ex-Sindicam, atualmente Sinaceg). O sindicato paulista é identificado pela Polícia Federal como o braço político da organização criminosa.
A fase final do BID (processo de cotação de preços) das montadoras em curso acendeu o estopim da violência nas estradas – por enquanto limitada às redes sociais. Neste ano, porém, a lupa do Ministério Público Federal de São Bernardo do Campo (SP) está voltada para o desenrolar dos certames deflagrados pela BMW, Ford do Brasil e Volkswagen do Brasil. Nesta última montadora, a campanha do cartel mostra-se mais concentrada.
Outro motivo que levou à ira do cartel nas redes sociais, foi a confirmação da compra das operações da fábrica da Chery no Brasil, localizada em Jacareí, interior paulista, por parte do Grupo Caoa. Desde o início da implantação da montadora, o transporte da produção estava sendo feita por cegonheiros agregados à Brazul. A troca de comando poderá acarretar também mudanças no setor de transporte dos veículos. O grupo Caoa mantém uma parceria de anos com a Transportes Gabardo, que não integra o sistema Sinaceg/ANTV.
Notícias e atas cartoriais
Uma verdadeira avalanche de notícias e atas de depoimentos em cartório foram disparadas pelo WhatsApp. Todas tentando denegrir a imagem do empresário Sérgio Gabardo, da Transportes Gabardo; do empresário Fernando Simões, da Júlio Simões; da Transilva; e do Grupo Caoa, incluindo Antonio Maciel, ex-presidente. Todas disputando o chamado BID das montadoras. Há notícias, inclusive, em que, em linguagem jornalística, o conteúdo do texto não sustenta o título. Nenhum dos empresários e empresas quis se manifestar. Mas o portal Livre Concorrência apurou que ações judiciais estão a caminho.