
O transporte de veículos produzidos nas três unidades da Volkswagen do Brasil, duas em São Paulo e uma no Paraná, está parado desde 29 de novembro. A assessoria de imprensa da montadora afirma que “está tudo normal”, mas o portal Livre Concorrência confirmou que nenhum caminhão-cegonha entrou ou saiu das fábricas nos últimos cinco dias. Um funcionário da Volks está usando o aplicativo WhatsApp para pedir às transportadoras que não mandem caminhões. Na mensagem, o interlocutor esclarece: “Está tudo parado. O pessoal do Sindicam está nos portões.”
A paralisação ocorre na fase final da cotação de preços (BID) realizada pela montadora para contratar novos transportadores. Os atuais prestadores de serviço recusam-se a perder cargas para empresas que não participam do esquema de alinhamento de preço nem de violações aos princípios da livre concorrência.
A subserviência da General Motors ao cartel foi um dos motivos que levaram a montadora norte-americana instalada no Brasil a ser condenada a pagar uma multa de R$ 250 milhões. O valor pode ser majorada para mais de R$ 1 bilhão no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Condenados desafiam a Justiça
A interrupção do escoamento da produção da VW é orquestrada pelo Sindicam (agora Sinaceg), condenado pela Justiça Federal por formação de cartel no setor de transporte de veículos novos. A ação da entidade, considerada braço político do cartel que controle o setor, é um acinte à sentença condenatória de 1º grau.
Recursos estão tramitando no TR4 desde fevereiro deste ano. Ao lado da entidade, outro condenado em ação penal está a insuflar carreteiros no movimento: Aliberto Alves, ex-presidente do Sindicam, que em 13 de novembro participou de audiência em Porto Alegre visando à suspensão condicional do processo. A Justiça Federal o considera agressivo.
Usando a rede social do WhatsApp, o secretário-geral do Sinaceg, Douglas Santos Silva, convocou os associados para reunião na sede da entidade. Confira a mensagem abaixo:
Reunião foi realizada na sedo do Sinaceg
Segundo apurou o site Livre Concorrência, Aliberto Alves convocou a paralisação no encontro realizado na sede do Sinaceg. O réu processado e condenado por crime contra a economia e formação de cartel tentou ainda, em seu discurso, isentar o Sinaceg das ações deflagadas em 29 de novembro:
“Isso não tem nada a ver com o sindicato, é uma decisão dos carreteiros”.
Junto com outros executivos de transportadoras, Aliberto Alves também é réu em ação penal movida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São Bernardo do Campo, acusado de formação de cartel e de quadrilha.
Um ônibus do Sindicato dos Rodoviários está sendo usado na manifestação, na tentativa de ludibriar o Ministério Público Federal (MPF), autor da ação que condenou e proibiu o Sinaceg de atuar nesse tipo de situação em “qualquer outra montadora”, e não apenas nas plantas da General Motors.
Rede de boatos
Uma semana antes da paralisação do transporte de veículos novos na Volkswagen, entidades e empresas ligadas ao cartel promoveram campanha difamatória nas redes sociais. Por meio de mensagens e panfletos eletrônicos, empresários que não figuram no esquema de superfaturamento do valor dos fretes, foram os alvos da organização criminosa.