
A denúncia de alinhamento da Volkswagen do Brasil com o cartel dos cegonheiros, formalizada em dezembro do ano passado na Justiça de São Bernardo do Campo (SP), chegou à sede do Staattsanwaltschaft (o Ministério Público Federal alemão) de Frankfurt. Os procuradores daquele país receberam o material em setembro e já iniciaram a análise das informações. Documentos também foram encaminhados à matriz da montadora alemã e às sedes da Mercedes-Benz e BMW. A revelação foi feita pelo presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Goiás (Sintrave-GO), Afonso Rodrigues de Carvalho, o Magayver, em audiência judicial ocorrida em 17 de outubro.

Afonso Rodrigues de Carvalho na sede da promotoria, em Frankfurt
O líder sindical depôs em ação penal movida pelo Ministério Público de São Paulo, que tem como um dos réus o político e empresário Vittorio Medioli. Ele é proprietário do grupo Sada e prefeito de Betim (MG). Foi somente no início desta semana que o site Livre Concorrência confirmou a entrega dos arquivos aos procuradores alemães, embora a revelação tenha ocorrido em meados de outubro.
Durante sua estada na Alemanha, em setembro deste ano, Magayver entregou um dossiê sobre a atuação da Volkswagen do Brasil no episódio da greve de cegonheiros-empresários ocorrida em dezembro do ano passado. Por 15 dias nenhum veículo produzido na unidade de São Bernardo do Campo pôde deixar a fábrica. Os documentos, com tradução juramentada, revelam que a montadora protocolou ação judicial informando ser alvo das ações do cartel, que tentava impedir a Volkswagen de buscar melhoria técnica e preço mais competitivo no transporte dos veículos fabricados no país. Magayver esclareceu:
“No entanto, um dia após conseguir a liminar para liberar os acessos à fábrica, a Volkswagen anunciou acordo com os mesmos transportadores que acusou de tentar impedir o exercício da livre concorrência. Isso é conivência ou alinhamento com o cartel.”
De acordo com o presidente do Sintrave-GO, os integrantes do cartel dos cegonheiros impediram, por meio de greve ilegal (de patrões) e com o apoio de todas as transportadoras que realizam o transporte da marca alemã aqui no Brasil, que a Volkswagen desse andamento do BID (cotação de preços). A intenção da montadora era encontrar no mercado outros transportadores não alinhados com o cartel. O sindicalista contou aos procuradores:
“Mas essa associação criminosa (cartel dos cegonheiros), usando o mesmo modus operandi que perpetuou no Brasil há muitas décadas, não permitiu que a livre concorrência fosse exercida.”
Magayver também entregou documentos nas matrizes das montadora BMW e Mercedes-Benz, solicitando providências quando a atuação do cartel nessas fábricas do Brasil.