FSP: Bolsonarista que defendeu separar Nordeste tem R$ 480 milhões em contratos com governo

Após afirmações preconceituosas decorrentes do resultado do segundo turno, no qual o candidato apoiado por Vittorio Medioli perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva, o dono do grupo Sada defendeu a separação do Nordeste do restante do Brasil. Para o empresário e político de Minas Gerais existem dois Brasis: um que paga impostos e outro que depende de transferências. Tentou dizer depois que foi infeliz nas colocações. Só esqueceu de dizer que mais de R$ 210 milhões dos contratos da Deva com a Codevasf em 2021, de um total de R$ 354 milhões, referem-se a pregões para entregas de caminhões a estados nordestinos (Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte).

De Minas Gerais

Ao que parece Vittorio Medioli e as empresas dele (grupo Sada) não têm aversão à livre concorrência apenas no setor de transporte de veículos novos. Vale a pena conferir o que a Folha de São Paulo levantou na edição da última sexta-feira (11). Em matéria intitulada Bolsonarista que defendeu separar Nordeste tem R$ 480 milhões em contratos com o governo, o maior jornal do país destaca que “licitações ganhas pela firma do prefeito de Betim (MG) são marcadas por baixíssima concorrência”.

Os repórteres Fávio Ferreira e Mateus Vargas, da Folha, escreveram:

“A empresa de Vittorio Medioli, prefeito de Betim (MG) que defendeu a separação do Nordeste do Brasil após a derrota de seu aliado Jair Bolsonaro nas eleições, já assinou contratos com o atual governo federal que somam mais de R$ 480 milhões.”

Medioli, informou a reportagem, que é sócio da concessionária Deva Veículos. Desde o início da gestão Bolsonaro em 2019, a revenda de caminhões da marca Iveco (leia-se Stellantis – FCA-Fiat-Jeep), já recebeu pagamentos de R$ 230 milhões referentes a contratos com a administração federal.

Eles acrescentaram:

“Quase a totalidade dos pagamentos resulta de licitações ganhas pela concessionária para entrega de caminhões de vários tipos à estatal Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba.”

Apenas com a estatal controlada pelo centrão (principal núcleo de apoio de Bolsonaro na Câmara dos Deputados), a Deva ganhou em 2021 licitações para fechar contratos no valor de R$ 354 milhões. Em 2020, a cifra chegou a R$ 98 milhões, e, em 2019, a cerca de R$ 15 milhões, totalizando quase meio bilhão de reais nesse período, segundo a reportagem.

Licitações com baixíssima competitividade
Os 34 lotes de pregões eletrônicos que a concessionária de Vittorio Medioli disputou e venceu em 2021 tiveram, em média, apenas um outro participante, o que revela baixíssima competitividade. Em 9 dos 34 lotes de pregões que venceu, só a Deva se apresentou para dar lances. Em alguns desses pregões, a Deva não deu desconto ou deu desconto menor que 1% em relação aos preços de referência das licitações.

A Folha destacou:

“O caso que mais chama a atenção é o do maior lote vencido pela Deva, para entrega de 110 caminhões de lixo para a superintendência da Codevasf em Alagoas [Nordeste], no valor de 52 milhões. Nessa disputa o preço máximo aceitável indicado pela Codevasf era de R$ 474.498,18 por veículo.”

O jornal continuou:

“Nesse pregão apenas a concessionária se apresentou, como informou o jornal o Estado de São Paulo em maio, e acabou levando o contrato pelo montante de R$ 474 mil, ou seja, deu um desconto de apenas 0,1% em relação ao valor máximo.”

Preconceito de origem nacional
No artigo publicado em 6 de novembro, no jornal O Tempo, Vittorio Medioli escreveu:

“O separatismo, presente em outros momentos da história brasileira, não seria, à primeira vista, a solução mais adequada, mas, nesse caso, a vontade popular, por meio de plebiscitos, seria talvez a única solução para resgatar a legitimidade ameaçada.”

No entendimento do empresário e político de Minas Gerais existem dois Brasis: “Um que produz mais e arrecada impostos, e outro, paradoxalmente mais carente, que vive das transferências. Dessa forma, a divisão territorial, por meio de um ‘divórcio consensual’, está com suas sementes se espalhando.”

Aqui vale um registro. Mais de R$ 210 milhões dos contratos da Deva com a Codevasf em 2021, de um total de R$ 354 milhões, referem-se a pregões para entregas a estados nordestinos (Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte).

Investigação dos contratos e punição por preconceito
Âncora do programa O É da Coisa, o jornalista Reinaldo Azevedo comentou na BandNews FM sobre os contratos da Deva com o governo Bolsonaro e o texto de caráter preconceituoso de Vittorio Medioli:

“Em muitos desses contratos o valente fez sem concorrência. O cara é dono de jornal, também. Esses são os patriotas que temos. Tem que ver o artigo 20 da Lei 7.916, sobre exercício de preconceito de origem nacional. Você [disse referindo a Vittorio Medioli] é italiano, mas eu te considero brasileiro legítimo. Quero que seja punido por isso como um brasileiro. E que se investigue esses seus contratos. Não é mesmo?”

O site Intercept Brasil publicou extensa matéria sobre Medioli. O texto de João Filho, intitulado A xenofobia disfarçada do empresário bolsonarista Vittorio Medioli, também analisa outros ataques ao Nordeste, na maioria das vezes deflagrados após eleições presidenciais cujos resultados contrariaram os interesses da extrema direita. O repórter escreveu:

“Oito anos se passaram, mas os ataques ao povo nordestino continuam sem freio. E, mais uma vez, a xenofobia não partiu apenas de bolsominions alucinados na internet. O ataque mais virulento veio do prefeito de Betim, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Vittorio Medioli, que apoiou Bolsonaro de maneira entusiasmada durante a campanha, usou sua coluna no jornal mineiro O Tempo, do qual é dono, para fazer um ataque xenofóbico disfarçado de análise bem elaborada.”

O Intercept foi além:

“O jornal O Tempo e outros veículos de comunicação do qual [Vittorio Medioli] é proprietário são usados por ele para fazer politicagem. Além de historicamente atacar seus adversários políticos no estado, o jornal O Tempo tem se dedicado a impulsionar o bolsonarismo, principalmente durante a última campanha eleitoral. Entre o primeiro e o segundo turno, Medioli fez uma série de questionamentos descabidos sobre as urnas eletrônicas em sua coluna, com a clara intenção de engrossar o golpismo de Bolsonaro.”

O site que se consagrou no Brasil expondo irregularidades e ilegalidades da operação Lava Jato ainda acrescentou:

“No ano passado, a condenação à prisão [por evasão de divisas] foi confirmada pela justiça. Mas, neste ano, o TRF-1 extinguiu a punição por prescrição. Além dessa condenação, Medioli foi acusado também de formação de cartel e de quadrilha no setor de transporte de veículos novos. Segundo o site Livre Concorrência, veículo especializado na cobertura da formação de cartéis no Brasil, Medioli é apontado como o chefe de um cartel que controla mais de 90% do setor de transporte de veículos novos. Esse é o Brasil ‘que produz’!”

Nenhum veículo de imprensa associou até agora as empresas de Vitorio Medioli à Operação Pacto. As investigações foram realizadas pela Polícia Federal, a pedido do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo. Portanto, o site Livre Concorrência lembra aqui o que já foi confirmado pela força-tarefa formada por agentes da Polícia Federal e integrantes do Cade e Gaeco.

1 – Cartel dos cegonheiros existe.
2 – Cartel é formado por grandes empresas (grupo Sada e Tegma) e atua em todo o território nacional.
3 – Cartel fatiou o mercado a fim de vender os serviços com cartas marcadas.
4 – Novas empresas são impedidas de operar no segmento.
5 – Cartel faz com que o preço do frete seja 30% a 40% superior ao que poderia ser praticado se houvesse competição.
6 – Montadoras que escolhem empresas fora do cartel são coagidas com piquetes e queima de caminhões.

Contraponto
À folha o grupo Sada afirmou por meio de nota que “respeitosamente, entendemos que se tratou de um artigo infeliz, devidamente retratado, que não expressa, de forma alguma, o pensamento real de Vittorio Medioli”.

Sobre os pregões, a nota esclareceu que “a Deva venceu alguns desses pregões (não todos) porque ofereceu as melhores condições, o melhor preço e, também, a concordância com todos os termos dos contratos”.

A Codevasf afirmou à Folha que suas licitações cumprem a lei e “a competitividade dos pregões é determinada por circunstâncias de mercado, sobre as quais a Codevasf não exerce influência”.

Foto: Reprodução de post em rede social com foto do presidente Jair Bolsonaro ao lado do prefeito de Betim (MG) Vittorio Medioli.

ANTV BID da Volkswagen Cade Cartel dos cegonheiros Combate aos cartéis Fiat Ford Formação de cartel Gaeco GM Incêndios criminosos Jeep Justiça Federal Luiz Moan MPF Operação Pacto Polícia Federal Prejuízo causado pelo cartel Sada Sinaceg Sindicam Sintraveic-PE Sintravers STJ Tegma Tentativa de censura Transporte de veículos Transporte de veículos2 Transporte de veículos novos TRF-4 Vittorio Medioli Volkswagen

Um comentário sobre "FSP: Bolsonarista que defendeu separar Nordeste tem R$ 480 milhões em contratos com governo"

  1. LUIZ CARLOS BEZERRA disse:

    POIS É, NOBRES LEITORES DESSE BRILHANTE PORTAL.
    NA MINHA MODESTA OPINIÃO, ESSE MELIANTE, QUE COMANDA O CARTEL DOS CEGONHEIROS, RESOLVEU SE ALIAR AO PRESIDENTE JAIR MESSIAS BOLSONARO, COM O INTUITO CLARO DE SE PROMOVER MAIS AINDA EM NOSSO PAÍS, LUDIBRIANDO A TODOS DA DIREITA, FINGINDO SER UM POLÍTICO SÉRIO E LÍCITO, MAS NÃO É.
    ELE CORROMPEU MUITOS POLÍTICOS, COMO O ANTIGO GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO, PREJUDICANDO TODAS AS TRANSPORTADORAS DE VEÍCULOS EXISTENTES NO ESTADO, IMPEDINDO-AS DE TRABALHAR NO TRANSPORTE DE VEÍCULOS PRODUZIDOS NA PLANTA DA FIAT/JEEP, ONDE A SADA DOMINA, DESDE A SUA IMPLANTAÇÃO NO TERRITÓRIO DO ESTADO. O ENTÃO GOVERNADOR DOOU MAIS DE 60 HA DE ÁREA DO ESTADO, PARA QUE ELE PUDESSE CONSTRUIR SUA BASE TERRITORIAL, AFRONTANDO A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
    ESSE ITALIANO, QUE COMANDA O CARTEL DOS CEGONHEIROS, FICOU MILIONÁRIO NO NOSSO PAÍS, POR TER ATUADO COMO O GRANDE CHEFE DESSA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, COMANDANDO EM QUASE 100% DOS VEÍCULOS AQUI PRODUZIDOS.
    DESSA FORMA, APOIOU O ENTÃO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, PARA FINGIR DAR APOIO A SUA ELEIÇÃO. AGORA, ESSE ITALIANO, VEM PROPONDO TRANSFORMAR A REGIÃO NORDESTINA EM UM OUTRO PAÍS, PARA CONTINUAR COMANDANDO O TRANSPORTE, REFERINDO-SE A UM “PAÍS DO EXTERIOR”. UM VERDADEIRO ABSURDO!
    SENDO ASSIM, AS EMPRESAS DESSE ITALIANO DEVERIAM SER FECHADAS, POR ORDEM JUDICIAL.
    “LUGAR DE BANDIDO, É NA CADEIA”, E NÃO NO COMANDO DO TRANSPORTE DE VEÍCULOS ZERO KM, AQUI PRODUZIDOS, PROIBINDO OS BRASILEIROS DE TRABALHAR, EM SUAS PLANTAS (BRASIL).
    NADA MAIS A COMENTAR!
    VAMOS AGORA AGUARDAR O DESFECHO FINAL.
    SALVEM O NOSSO PAÍS!

Os comentários estão encerrados