
A indústria automobilística parece não se importar com a própria imagem nem com o bolso e a saúde dos consumidores. Aqui no Brasil, as fábricas de automóveis estão subordinadas a um esquema criminoso no setor de transporte de veículos novos que já causou prejuízo de mais de R$ 7,7 bilhões às pessoas que compraram carros entre 1997 e 2014, segundo cálculos do Ministério Público Federal (MPF).
Na Europa e nos Estados Unidos, a situação vai de mal a pior. Dois escândalos abalaram o setor nos últimos anos: o cartel europeu das montadoras de caminhões e aquele que ficou conhecido por “dieselgate” (fraude praticada especialmente pela Volkswagen para encobrir a poluição lançada por motores a diesel). Agora, três montadoras alemãs e um fabricante de autopeças são acusados de financiar experiências com humanos e macacos. Nos testes realizados em laboratórios norte-americanos e alemães, as cobaias foram expostas à inalação de gases liberados pela combustão de motores a diesel.
Conduta absurda
A conduta considerada por autoridades européias como “absurda e indesculpável” foi denunciada por jornais dos Estados Unidos e da Alemanha, New York Times e Süddeutsche Zeintung. As pesquisas, segundo os relatos, eram financiadas pela Volkswagen, Daimler (dona da marca Mercedes-Bens), BMW e pelo grupo alemão Bosch.
Cobaias humanas
Os testes foram realizados por uma organização europeia de saúde no setor de transporte, o UEGT. As primeiras informações, divulgadas na semana passada, revelaram o uso de macacos nessas experiências. Os animais eram expostos à inalação de gases em laboratórios dos Estados Unidos. No início desta semana, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung divulgou que a metodologia também foi aplicada em 25 seres humanos considerados saudáveis. As cobaias humanas foram testadas dentro de território alemão.
Para piorar a situação
Um outro elemento desqualifica ainda mais as experiências com humanos e macacos. Os procedimentos ocorreram durante testes de emissão de gases fraudados pela própria Volkswagen, no escândalo do dieselgate.
A ministra alemã do meio ambiente, Barbara Hendricks, chamou o método de “vil e desprezível”. O ministro de transporte e agricultura da Alemanha, Christian Schimidt, pediu à comissão encarregada de investigar o “dieselgate” para examinar as novas acusações. E sentenciou:
“Isso mostra que a confiança na indústria automotiva volta a diminuir.”
Em nota, a Volkswagen afirmou que os métodos científicos usados pelo UEGT estavam errados e pediu “desculpas sinceras” pelo ocorrido. A Daimler disse que abrirá uma investigação sobre a pesquisa. A BMW alegou que não participou do desenvolvimento dos métodos para o estudo. A Bosch alegou ter abandonado o grupo de financiadores do UEGT em 2013.