Impunidade traz de volta as barbáries das ações de bandidos travestidos de cegonheiros

A impunidade de bandidos travestidos de cegonheiros está trazendo de volta o temor a motoristas que enfrentam as estradas brasileiras transportando veículos novos. Além deles, empresários amargam prejuízos milionários com os incêndios criminosos praticados por quem é contrário ao exercício da livre concorrência e quer exercer, a qualquer preço, o monopólio no setor. A vida de dezenas de pessoas está em risco, enquanto as autoridades mostram-se impotentes para acabar com o crônico e preocupante problema.

Desde o dia 8, as ações dos bandidos travestidos de cegonheiros ganharam novos contornos, cobertos pelo manto do Instituto da Impunidade. A nova transportadora contratada pela Caoa-Chery para escoar a produção de Jacareí transformou-se no novo alvo dos bandidos travestidos de cegonheiros. De maneira covarde e hostil, buscam impedir que a Transportes Gabardo exerça suas atividades licitamente. Dezenas de veículos novos da Chery foram depredados com miguelitos, instrumento utilizado por bandidos que assaltam bancos e os empregam para dificultar a ação de perseguição da Polícia.

Na madrugada da última segunda-feira, os bandidos travestidos de cegonheiros mostraram audácia e destemor. Numa ação digna dos mais experientes assaltantes de bancos, cortaram arames, danificaram câmera de segurança e atearam fogo em nada menos do que oito caminhões da nova transportadora dos veículos Caoa-Chery. O fato ocorreu na filial da Transportes Gabardo sediada em Porto Real (RJ), distante cerca de 200 quilômetros do foco da movimentação dos bandidos travestidos de cegonheiros, em Jacareí (SP).

Vidas humanas estão em jogo. A bandidagem que permanece há anos à solta as ameaça|
Nos últimos anos, o número de caminhões-cegonha incendiados por esse grupo de bandidos travestidos de cegonheiros já superou a marca de 50 unidades. De uma só vez, em 2011, esses malfeitores atearam fogo de forma criminosa em nove caminhões da empresa Transilva, que tem sede no Espírito Santo. Em frente ao pátio da empresa. Em 2016, eles voltaram a atacar porque a empresa capixaba conquistou o escoamento dos veículos importados da marca Kia. Foram ousados mais uma vez, quando lançaram bombas caseiras na sede da Kia, em Itu. Sem contar as mais de 30 carretas incendiadas nas rodovias e em postos de combustível, colocando em risco a vida de dezenas de pessoas inocentes.

Mas esse grupo de bandidos travestidos de cegonheiros ainda tem a ousadia e a petulância de se apresentar como motoristas autônomos e pais de família. Um apelo social sem qualquer argumentação sólida. São meliantes. Estão atrás na boleia de caminhões-cegonha a serviço do mal. Pode ser uma minoria, mas que acaba contaminando a maioria que quer apenas trabalhar.

A impotência das autoridades
Embora as autoridades constituídas tentem fazer a sua parte, ao que parece, os malefícios da Justiça mandam contra. A Polícia Federal possui nome, endereço, telefone e CPF dos bandidos travestidos de cegonheiros. Tudo está em inquérito policial federal que pede o indiciamento de um grupo desses meliantes. Vai daqui, vai prá lá, esse procedimento é datado de 2010. Até agora visitou três estados: Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais, onde está estacionado.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais está processando o feito, por conta da prerrogativa de foro do prefeito de Betim, Vittorio Medioli, apontado pela autoridade policial como o chefe da quadrilha investigada. Com ele, há mais cúmplices, segundo a PF. Todos continuam desfrutando da mais ampla liberdade, inclusive para cometer as atrocidades que ora recrudescem.

Em outra ação penal que tramitou por longos sete anos na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, o rumo foi o mesmo. No STF, um dos 12 denunciados, Luiz Fernando Schettino Moreira, da Tegma Gestão Logística, conseguiu a declaração de incompetência da Justiça Federal. O processo voltou à estaca zero na Justiça Estadual. Dois anos depois, foi encaminhado para a Comarca de São Bernardo do Campo, onde o Gaeco reformulou a denúncia.

Depois de outros quatro anos, descobriu-se que Vittorio Medioli, acusado de ser um dos integrantes da quadrilha e com a acusação de formação de cartel no setor de transporte de veículos, elegeu-se prefeito municipal. Pronto! Foi o suficiente para toda a peça ser enviada ao Tribunal de Justiça de Minas onde descansa.

Condenados sem pena
Na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, uma ação penal movida pelo Ministério Público Federal condenou, em 2006, três réus por formação de cartel no setor de transporte de veículos novos. Luiz Moan Yabiju Júnior (diretor da General Motors do Brasil), Paulo Roberto Guedes (presidente da Associação Nacional das Empresas Transportadoras de Veículos – ANTV) e Aliberto Alves (presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros, agora Sinaceg) foram condenados. Doze anos depois, ninguém cumpriu pena. A Impunidade volta a prevalecer. Tanto que Aliberto Alves, mesmo condenado, teve participação ativa da greve ilegal de patrões (locaute) ocorrida em dezembro do ano passado na Volkswagen do Brasil.

Uma Ação Civil Pública também chancelada pelo MPF no Rio Grande do Sul precisou tramitar durante 14 anos para receber a sentença. Ajuizada em 2002, teve liminar deferida um ano depois. Obrigou a GMB a contratar transportadores não vinculados ao sistema ANTV/Sinaceg para escoar parte da produção. GM condenada a pagar R$ 250 milhões de multa; Luiz Moan, R$ 2,4 milhões; ANTV, R$ 5 milhões e Sinaceg, R$ 300 mil. A apelação do autor e dos condenados aguarda decisão do TRF-4, desde fevereiro de 2016.

Agora, frente aos últimos acontecimentos, restam algumas indagações:

  • O poder público vencerá a luta contra esses bandidos travestidos de cegonheiros?
  • Empresários conseguirão exercer as suas atividades sem serem intimidados da forma mais criminosa?
  • Quantas vidas humanas serão perdidas até que o Estado adote alguma medida?

É preciso uma ação enérgica e urgente!

 

Ivens Carús – Editor

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