
Áudios vazados e impulsionados em redes sociais sobre possível comércio de venda de vagas para cegonheiros-empresários por R$ 50 mil agitou o setor no Rio Grande do Sul e São Paulo. A empresa que supostamente estaria oferecendo as vagas, a Bonança Transportes Logística Importação e Exportação, não quis se manifestar. A transportadora paulista teria como um dos principais articuladores do negócio o presidente do Sindicato dos Cegonheiros do Rio Grande do Sul (Sintravers), Jefferson de Souza Casagrande, o Bolinha. Autor dos áudios em que a suposta venda é explicada, Casagrande, afirma que a gravação é antiga, do final do ano passado ou início de 2018. Ele dá outra versão:
“Não se trata de venda de vagas. O valor se refere à venda de carretas do tipo robocop, feita por uma pessoa lá de São Bernardo, para quem não possui e quer se apresentar na Bonança para eventuais transportes.”
No áudio, Casagrande, referindo-se a carreteiros em direção à Bonança, fala:
“Já foram quatro que pagaram. Agora vão outros sete que pagaram. Cem (R$ 100 mil) sumiram no caminho. O cara lá quer mais 300 (R$ 300 mil). Seis vezes cinco, 30.”
De acordo com Casagrande, o negócio é tratado como investimento:
A Bonança tem um bom setor comercial e está em busca de novos trabalhos no setor de transporte, não só de cegonhas, mas também de pranchas. Ela puxa caminhões, tratores e máquinas pesadas.”
Mas os chamados frotistas da Júlio Simões, associados ao Sintravers, pensam diferente. Por conta da agitação nas redes sociais, foi criado um grupo de cegonheiros-empresários. Eles marcaram reunião nesta terça-feira (4), nas dependências da transportadora, para discutir os últimos acontecimentos.
Silêncio total
Os veículos transportados por cegonheiros-empresários agregados agora à Bonança (foto de abertura, capturada no estado de São Paulo) são da marca Chevrolet. O site Livre Concorrência tentou saber da General Motors se a Bonança foi contratada para a realização do serviço. A montadora não quis se manifestar. O mesmo aconteceu com a Bonança. O diretor comercial da transportadora, Paulo Palhares, ficou de responder os questionamentos feitos até sexta-feira. Não o fez. Pediu prazo até a manhã de sábado, o que também acabou não acontecendo.
Recuperação meteórica
Até o final do ano passado, a Bonança estava envolta em dívidas que superavam os R$ 2 milhões só com a Caixa Econômica Federal. O banco executava título judicialmente. Em meio a crise que assola o país, a Bonança, segundo informa o presidente do Sintravers, conseguiu se recuperar economicamente. A empresa não revela qual o modelo econômico desenvolvido para alcançar resultado favorável tão rápido.
Em pesquisa realiza no sítio da Justiça Federal, neste domingo, a ação de execução movida pela CEF continua em andamento. Junto com a Bonança, são executados pela dívida superior a R$ 2 milhões Hamilton de Oliveira e Maria Rocha Gutierres Yonemaru. Ambos, ainda de acordo com a movimentação processual, aparecem sem advogados nos autos.
Também de acordo com Casagrande, as cargas da General Motors que a Bonança está realizando atualmente são oriundas da Júlio Simões, que “não tem carretas suficientes para atender a demanda”. O que ninguém responde é por qual motivo a Júlio Simões chamou a Bonança para fazer o transporte utilizando agregados, sem aproveitar os frotistas, por exemplo, do Rio Grande do sul que já prestam serviços à transportadora.
A Júlio Simões foi contratada pela General Motors do Brasil em 2003, quando a Justiça Federal do Rio Grande do Sul determinou à montadora a contratação de transportadores não vinculados ao sistema cartelizante liderados pela ANTV e Sinaceg (ex-Sindicam). A denúncia de formação de cartel foi feita pelo Sintravers, na gestão anterior de Jefferson Casagrande.