
Apesar de ter sido condenada em 2016 por participação ativa no cartel que controla o transporte de veículos novos no país, a General Motors do Brasil (GMB), ré em Ação Civil Pública desde 2002, mantém-se alinhada às transportadoras dos grupos Tegma e Sada, responsáveis por mais de 95% dos fretes realizados em território nacional, e em conluio com o Sindicato dos Cegonheiros de São Paulo (Sinaceg, ex-Sindicam), apontado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal como o braço político da associação criminosa que atua no setor.
O resultado do vínculo com o chamado cartel dos cegonheiros aparece nos números a seguir. Somente em 2017, 393.977 consumidores da marca amargaram um prejuízo global de R$ 257.290.584,00, fruto do preço superfaturado dos fretes e da ausência de concorrência nesse segmento. Luiz Moan Yabiku Júnior, que exerceu o cargo de diretor para assuntos institucionais da montadora norte-americana, também foi condenado, em 2003, em ação penal pelo mesmo motivo.
Em média, cada veículo ficou R$ 653,05 mais caro por conta do ágio praticado pelo cartel. O valor faz parte da planilha de custos das montadoras.
Para escoar os 393,9 mil veículos comercializados pela montadora ao longo de 2017, as transportadoras cobraram R$ 1.029.162.356,00. Além dos grupos Sada e Tegma, integram esse seleto grupo empresários associados ao Sinaceg e a entidades regionais cooptadas pelo cartel, a exemplo do sindicato gaúcho da categoria, o Sintravers.
Cartel cobra 25% a mais
Só com o valor cobrado a mais, os consumidores da marca GM arcaram com prejuízo de R$ 21.440.882,00 a cada mês, o que equivale a 630 veículos Corsa Classic (o mais barato na lista da montadora). A cada dia útil, os compradores da GM amargam o pagamento a maior de R$ 824.649,30, igual a 24 automóveis do mesmo modelo. Com o valor cobrado a mais pelo transporte, na soma total do ano de 2017, os consumidores acabaram sendo penalizados com nada menos do que o equivalente a 7.569 automóveis Corsa Classic.
Os dados foram levantados pelo site Livre Concorrência e tiveram como ponto de partida os números divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Também foi usado na equação o resultado da investigação feita pelo MPF, segundo o qual a ausência de livre concorrência onera o consumidor final que compra um veículo zero-quilômetro em 25% sobre o custo cobrado a título de frete majorado pelos agentes acusados de formação de cartel. De acordo com os procuradores Silvana Mocellin e Estevan Gavioli da Silva, o cálculo do frete baseia-se no percentual de 4% sobre o valor de venda dos veículos.