Dez montadoras poderão pagar mais de R$ 1,2 bilhão em contribuição pecuniária e ainda terão de romper com cartel dos cegonheiros

Dez montadoras de veículos instaladas no país poderão ter de arcar com prejuízo superior a R$ 1,28 bilhão a título de contribuição pecuniária. Além disso, deverão adotar medidas supervisionadas visando à abertura gradual do mercado de transporte de veículos novos, acabando com o chamado cartel dos cegonheiros. O controle fechado desse mercado é exercido com mãos de ferro por empresas associadas à ANTV, lideradas pelos grupos Sada e Tegma, tendo como braço político, o Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg).

A decisão poderá sair no âmbito do inquérito administrativo que apura a prática de infrações à ordem econômica, em andamento no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A punição deverá ser formalizada por meio de Termo de Compromisso de Cessação (TCC). A falta de concorrência no setor causa prejuízo superior a R$ 1,5 bilhão por ano aos consumidores, segundo o Ministério Público Federal.

A autoridade antitruste investiga possíveis práticas de infrações à ordem econômica no setor desde 2016, mas foi neste ano que decidiu convocar 16 montadoras para prestarem esclarecimentos a respeito do escoamento da produção. De posse dos dados, a equipe técnica do Cade já está traçando o mapa do sistema cartelizante que conta com a participação ativa das fábricas, responsáveis pela contratação das empresas de logística e transporte de veículos novos. Veja abaixo o mapa do cartel, conforme levantamento do site Livre Concorrência. 

Os dados encaminhados ao Conselho revelam que a maioria das montadoras, quando pratica o chamado BID (cotação de preços), convida empresas do mesmo grupo, inviabilizando o exercício da livre concorrência. Há casos de fábrica que faz cotação de preços fraudulenta, aplicando golpe branco no mercado, a exemplo da Volkswagen do Brasil.

Contribuições pecuniárias
De acordo com o guia de TCCs publicado pelo Cade, e levantamento feito pelo site Livre Concorrência, a fixação dos valores de contribuição pecuniária a serem recolhidos ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça baseia-se num percentual relacionado ao faturamento bruto de cada grupo econômico no ano anterior ao início do procedimento.

Multas por participação ativa na formação do cartel dos cegonheiros podem chegar a R$ 5 bilhões
Os valores nunca deverão ser menores do que o prejuízo causado pela eventual infração à ordem econômica e têm teto máximo de 20% do montante faturado ao longo de 2015, quando a relação das montadoras com empresas e sindicatos vinculados ao cartel começou a ser investigada pelo Cade. Os TCCs são firmados ainda durante o inquérito administrativo e antecede ao Processo Administrativo. Nessa última fase, em caso de condenação, as multas são mais pesadas, podendo alcançar a cifra dos R$ 5 bilhões.

Segundo números revelados na edição de 26 de novembro de 2016 da revista Quatro Rodas, o grupo FCA Fiat Chrysler (Fiat/Jepp) foi o que mais faturou em 2015, alcançando R$ 21,55 bilhões, sendo seguido pela General Motors, com R$ 18,10 bilhões, e pela Volkswagen, que faturou R$ 17,28 bilhões. Ao todo (tabela acima), as dez maiores fábricas com unidades no país tiveram um faturamento superior aos R$ 128,4 bilhões em 2015. Os dados, segundo a publicação, foram levantados pela Data2Mkit Marketing Inteligence. Outros dados foram revelados pela revista Exame, tendo como fonte, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, referentes ao grupo Caoa.

Única montadora transparente
Das 16 montadoras chamadas para dar explicações pelo Cade, a única que mostrou transparência nos dados e nas informações foi a Caoa-Hyundai. Citou ter conhecimento de denúncias por formação e cartel e, ao definir sua operadora logística e transportadora, optou por escolher uma que estivesse distante de possíveis acusações. Este, segundo a montadora, foi um dos fatores determinantes. Outros, foram a qualidade da prestação dos serviços e o preço considerado justo pelo frete. As demais montadoras que apresentaram dados, como a Mitsubishi e a Jaguar Land Rover, foram censuradas pela Brazul Transporte de Veiculos, com a conivência do Cade. A Brazul é de propriedade da Sada e uma das transportadoras representadas.

Na ilustração, o mapa do cartel contém dados de 2017. Ainda não está computado o desempenho da Caoa-Chery, que iniciou as operações em outubro deste ano.

ANTV BID da Volkswagen Cade Cartel dos cegonheiros Combate aos cartéis Fiat Ford Formação de cartel Gaeco GM Incêndios criminosos Jeep Justiça Federal Luiz Moan MPF Operação Pacto Polícia Federal Prejuízo causado pelo cartel Sada Sinaceg Sindicam Sintraveic-PE Sintravers STJ Tegma Tentativa de censura Transporte de veículos Transporte de veículos2 Transporte de veículos novos TRF-4 Vittorio Medioli Volkswagen