
Para os responsáveis por acolher as denúncias, as eleições servem como um gatilho para o avanço do discurso de ódio. O descontentamento com o resultado das eleições, em especial com a ampla votação de Lula no Nordeste, deflagrou nova explosão de xenofobia.

De Brasília
As denúncias de crimes de xenofobia na web – aqueles que se referem ao ódio a imigrantes ou pessoas de outras regiões do país – registraram aumento de 874,10% em 2022, em comparação com o ano anterior. O levantamento foi divulgado pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da Safernet na terça-feira (7), Dia da Internet Segura. Outros dois tipos de crimes de ódio também apresentaram crescimento no mesmo período: intolerância religiosa (455,99%) e misoginia (250,85%).
Denúncias de crimes de ódio em 2022
Crimes de ódio | Denúncias em 2021 | Denúncias em 2022 | Crescimento |
---|---|---|---|
Xenofobia | 1.097 | 10.686 | 874,10% |
Intolerância religiosa | 759 | 4.220 | 455,99% |
Misoginia | 8.174 | 28.679 | 250,85% |
LGBTFobia | 5.347 | 8.136 | 52,16% |
Apologia a crimes contra a vida | 7.390 | 10.384 | 40,50% |
Racismo | 6.888 | 9.259 | 34,40% |
Neonazismo | 14.476 | 2.661 | -81,60% |
Totais | 44.131 | 74.025 | 67,70% |
O ano passado foi o terceiro ano eleitoral consecutivo (2022, 2020 e 2018) em que se detectou um crescimento constante e praticamente uniforme nos crimes de ódio denunciados à Safernet em relação aos anos ímpares, em que não há eleições.

São sete os crimes de discurso de ódio na rede. Além de xenofobia, intolerância religiosa e misoginia, a ONG também registrou apologia a crimes contra a vida, LGBTFobia, neonazismo e racismo. Desses sete, cinco já haviam superado em 31 de outubro o total de denúncias recebidas ao longo de todo o ano de 2021: apologia a crimes contra a vida, LGBTFobia, xenofobia, intolerância religiosa e misoginia.
Dos crimes de ódio, o único que não apresentou crescimento em 2022 foi o neonazismo. Em 2022 houve baixa de 81,6% no número de denúncias em relação a 2021. Thiago Tavares, diretor-presidente da Safernet, aponta as razões para a queda:
“Essa redução significa que boa parte da atividade das células neonazistas no Brasil migrou da web aberta para ambientes mais fechados, como aplicativos de troca de mensagens e fóruns na deep web.”
Para os responsáveis por acolher as denúncias, as eleições servem como um gatilho para o avanço do discurso de ódio. O descontentamento com o resultado das eleições, em especial com a ampla votação de Lula no Nordeste, deflagrou nova explosão de xenofobia. O fenômeno já havia sido registrado em 2014, quando Dilma Rousseff se reelegeu. Também se repetiu em 2018, ocasião em que a região preferiu Fernando Haddad, então candidato do PT à Presidência da República, a Jair Bolsonaro.
Desde 2017, as denúncias de crimes de ódio apresentam maior crescimento em anos eleitorais. Em 2020, por exemplo, quando ocorreram eleições municipais, foram anotadas mais de 50 mil denúncias, mais que o dobro do ano anterior. Em 2021, ano sem eleições no país, foram cerca de 5 mil a menos. E o ano passado, voltou a atingir a marca de 74 mil.
Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da Safernet, explica:
“As eleições tornaram-se um campo fértil para o crescimento do discurso de ódio, que se alimenta de preconceitos já enraizados no imaginário das pessoas.”
TODOS ESSES CRIMES HEDIONDOS, DEVERIAM SER EXTINTOS DE NOSSO PAÍS, IMEDIATAMENTE!